sexta-feira, 27 de novembro de 2009

Criança da ladeira digreja

Criança livre e alegre
Descalço saltitava de pedra em pedra
Que trepava nas árvores da tambarina
Que fugia ao longo da encosta da ladeira
à procura da barneda ou uva de macaco.
Criança que brincava ao ar livre com os jogos
de malha, fitche fatche, ou roda roda sem cantim
que brincava à luz do luar, ás escondidas ou que sentava para ouvir as histórias dos mais velhos.
Criança prestativa, que a mãe mandava ir comprar um pouco de pitrol ou açucra, buscar uma lata de agua na passaja, que cuidava e carregava ao colo o irmão mais novo mesmo não tendo forças suficientes.
Criança que andava de porta em porta dos vizinhos porque eles tinham sempre algo
a oferecer mesmo um sorriso não faltava.
Criança que ia todos os domingos à missa, que todas as principais festa tinha uma roupinha nova.
Criança que começou a estudar na escola Central (grande escola)
que nos intervalos corria a casa para tomar o seu lanche (ai como sabia tão bem),
que muitas vezes foi discriminada pelos professores, porque criança pobre não devia saber muito, senão é porque copiava.
Que podia ser um excelente aluno na admissão mas que na pauta não passava de um dez valores.
Criança que venceu pelos próprios meios, porque ninguém lhe facilitava nada.
Mas essa criança tinha um segredo, as quatro paredes de pedra e barro de que eram feitos a sua casa era o bronze, pavimento que era coberto pela terra batida era o ouro e palha que cobria o seu tecto era o algodão doce.
Essa criança cresceu, tinha sonhos e foi feliz.
Criança filha de uma analfabeta mas que por mais que viva não encontrará um intelectual ou sábio que seja capaz de lhe ensinar a melhor lição da sua vida, lhe dar a chave para abrir todas as portas desse mundo «a educação».


Júlia Almeida

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