sexta-feira, 18 de julho de 2008

Crónica de Viagem

CINCO DIAS, QUATRO NOITES, SEIS BRAVOS CAVALEIROS, MELHOR GROGUE DO MUNDO

Desta vez, sem perder o voo, desembarcam na ilha de “San Niclau”, seis bravos cavaleiros do apocalipse, quais senhores do deserto, cheios de sonhos para derreter pelas montanhas da ilha, desde Stancha, passando por Skemada, Fanjã, Catchóz, até Tarrafal.

Muito cedo deram início a uma cavalgada, sem freio, pelas colinas, dia e noite, à cata de aventuras nas noites cálidas de Catchóz e Pic Agud, temperado pela frescura do Monte Gordo, ao som do “serrá-serrá”, comendo “môdjede Saniclau (não aquele do Manel Antone), cold d'pêxe, à procura de uma rara hipótese de “xákika” e gozando as boas matinadas ao sabor cálido das águas temperadas da baía de Tarrafal e da boa cerveja fresca à mistura com o sempre e eterno “grog d'terra”.

Tarrafal, porto seguro para o grupo, palco de todos os convívios, com o “Zé Niclau” desta vez atracado, sem ser preciso arrastá-lo, mesmo sem a presença do senhor Agostinho ou do senhor Cadório.

Sereno, indiferente, lá estava o “Zé Niclau”, flutuando, tranquilo, nas águas calmas da baía, à espera da próxima faina.

No “Catchóz”, Manel liderava o grupo, à cata duma gaja, como só ele sabia fazer. Solteiro de profissão, o homem só tinha olhos mesmo era para “rob” saia, envolvendo-se, quando menos se esperava em cantadas supremas, naquela noite cálida de sexta-feira, num baile do “será-serrá”. Lá conseguiu uma fulana, mais amiga do que outra coisa, que morava em casa do senhor “Foi”, que até já se foi (entenda-se, já morreu faz algum tempo). Uma visita relâmpago, foi o único facto digno de nota, restando portanto, sérias dúvidas se havia “runfnodo” um beijo nela ou não. Em Pico Agudo, estava o nosso amigo, de novo, ao dorso do único transporte disponível na zona: nada mais, nada menos do que uma bestinha! O percurso era invariavelmente entre duas casas, a do Ganeto, num lugarejo e a do Carlos, noutro, assessorado por um grupo de garotos, que cuidadosamente conduziram o animal a bom porto.

Carlos, esse bom anfitrião, o bom amigo e amigo do bom grogue. Nascia com a presença dele, a máxima: “Fusco responsabilizante é absolutamente uma das melhores condições da alma humana!

O “modje” fazia parte, de um ritual obrigatório, ao lado do bom grogue e da cerveja fresca, de todos os dias, essas “duas entidades” que acompanhavam o grupo para todo o lado, menos para a cama, onde o repouso era curto e transitório.

Invariavelmente, o Pedro era acordado, todas as manhãs, por um som característico de grilo, desta feita, do telemóvel do Tói. Era a sineta do despertar, para mais um dia de faina na baía do Tarrafal e pelas colinas e encostas da ilha.

Ponto assente, o itenerário era acertado via telemóvel, entre Tói, Ganeto e Pedro, o Peter de Skemada e o Fernando, este, o condutor incansável das longas caminhadas pelas montanhas da ilha.

Ir à Stanja? (centro, vila, cidade, como se queira chamar), para quê, se Tarrafal era pura e simplesmente o melhor sítio para se estar e estava ali mesmo, ao lado da cama, disponível? Gritarei, berrarei, não vou para Stanja!

Já no dia D, de partida, no aeroporto, alguém havia de reivindicar: “Não vou para Stanja” (desta vez era a cidade da Praia, imaginem só, o Naice não querer regressar à ilha que o viu nascer!).

O Naice, mais uma vez com uma das suas, vai atirando para o último pedido no bar do aeroporto, onde todos pediram um café, menos ele que remata: “ncrê un piça quentado”! (leia-se pizza), porque ele realmente não queria outra coisa.

Ao Ganeto que estranhou o pedido, eu pedi: “calma rapaz, não se trata do que provavelmente estás a pensar”. Rápido compreendeu as minhas intenções, e deixou escapar uma boa gargalhada para se calar, de seguida. Com efeito, estava reconfortado com a explicação.

Seguimos viagem, para a porta de embarque no derradeiro momento da partida, cada um trazendo na mão o que podia para o avião. Daí a pouco, lá ao fundo, como um barco que navega em águas revoltas, surgia, imponente, o Pedro (não aquele de Skemáda, mas o Sapinho) com um saquinho amarelo de plástico, onde se podia descortinar feijão e abóbora dentro, visível por fora, a quem eu perguntei de quem era o saco, ao que ele respondeu: “mim sâbe?”. Perguntei de novo: bu câ sâbe módi?”. Desta vez preferiu responder com um silêncio, grunhindo qualquer coisa, enquanto continuava a campainhada e se dirigia para a porta de embarque, sem pronunciar pevas!

A ilha do Sal, era um ponto de passagem obrigatório, até porque, a escala que estava prevista para ser de 40 minutos acabou por ser de três horas, pois, o próximo voo só havia de partir pelas 21 horas e 30 minutos. Assim, feitas as contas, tínhamos por nossa conta e risco, mais 180 minutos de cerveja para gerir. O próximo destino seria Pretória, algures perto da casa do Raúl, esse homem que conhece bem os meandros da ilha, acabou por nos conduzir a um bar de mariscos, onde choveram uns bons pares de cerveja e grogue de Sto Antão, que até acabou por se esgotar, ao ritmo de quem sabe apreciar esse precioso líquido.

O novo destino era, obviamente, não Stancha, mas Praia. Resistindo ainda a este percurso, o Manel uma vez mais, quis retardar tudo, quase perdendo o voo. Com efeito, foi preciso a assistente de terra trazê-lo da casa de banho para a porta de embarque, praticamente à força, uma vez que, um dos reactores do avião, estava já em marcha. Aborrecido ou alegremente aborrecido, reclama: TACV está sempre a obrigar-nos a esperar, por que não me pode esperar, só porque fui à casa de banho? Não é justo!

A rolar, o avião depressa subiu e tomou rumo para a Praia!

Cinco dias, quatro noites, seis bravos cavaleiros, melhor grogue do mundo, muito boa gente... a alma saiu reconfortada, qualquer coisinha!

A propósito rapázes:
Uótá, iu gô rô, last ná?


Sexta-feira, 17 de Maio de 2002
Por: Mário Lopes

Mensagem recebida por email

2 comentários:

Anónimo disse...

isso é um pouquinho da história desses amigos que conheci em CV.


Pedrinho limpeza(Brasil)

Mario Lopes disse...

O nome como o autor do texto é mais conhecido é, na verdade por: Mário Lopes.
Se puderem corigir isso, seria bom para todos! Já reclamei isso junto de amigos de S. Nicolau, mas até agora não foi possivel corrigir isso.
agradecido
Mário Lopes
TACV- Praia